terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Outra vez não

Outra vez, não!

(Mário Crespo)

A compra da TVI e agora o caso de Marcelo Rebelo de Sousa mostram que
afinal Manuela Ferreira tinha toda a razão. Quando a líder do PSD o
denunciou, estávamos de facto a viver um processo de "asfixia
democrática" com este socialismo que José Sócrates reinventa
constantemente. Hoje o garrote apertou-se muito mais. Ridicularizámos
Ferreira Leite pelos avisos desconfortáveis e inconvenientes. No
estado de torpor em que caímos provavelmente reagiríamos com idêntica
abulia ao discurso da Cortina de Ferro de Winston Churchill quando o
mundo foi alertado para a ameaça do totalitarismo soviético que
ninguém queria ver. Hoje, quando se compram estações para silenciar
noticiários e se afastam comentadores influentes e incómodos da TV do
Estado, chegou a altura de constatar que isto já nem sequer é o
princípio do fim da liberdade. É mesmo o fim da liberdade que foi
desfigurada e exige que se lute por ela. O regime já não sente
necessidade de ter tacto nas suas práticas censórias. Não se preocupa
sequer em assegurar uma margem de recuo nos absurdos que pratica com a
sua gestão directa de conteúdos mediáticos. Actua com a brutalidade de
qualquer Pavlovitch Beria, Joseff Goebbels ou António Ferro. Se este
regime não tem o SNI ou o Secretariado Nacional de Propaganda, criou a
ERC e continua com a RTP, dominadas por pessoas capazes de ler os mais
subtis desejos do poder e a aplicá-los do modo mais servil. Sejam eles
deixar que as delongas processuais nas investigações dos
comportamentos da TVI e da ONGOING se espraiem pelos oceanos
sufocantes do torpor burocrático, seja a lavrar doutrina pioneira
sobre a significância semiótica do "gestalt" de jornalistas de
televisão que se atrevam a ser críticos do regime, seja a criar todas
as condições para a prática de censura no comentário político, como é
o caso Marcelo Rebelo de Sousa. Desta vez, foi muito mais grave do que
o que lhe aconteceu na TVI com Pais do Amaral. Na altura o Professor
Marcelo saiu pelo seu pé quando achou intolerável um reparo sobre os
conteúdos dos seus comentários. Agora, com o característico
voluntarismo do regime de Sócrates, foi despedido pelo conteúdo desses
comentários. Nesta fase já não é exagerado falar-se da "deriva
totalitária" que Manuela Ferreira Leite detectou. É um dever
denunciá-la e lutar contra ela. O regime de Sócrates, incapaz de lidar
com as realidades que criou, vai continuar a tentar manipulá-las com
as suas "novilínguas" e esmagando todo o "duplipensar" como Orwell
descreve no "1984". Está já entre nós a asfixia democrática e a deriva
totalitária. Na DREN, na RTP, na ERC, na TVI e noutros stios. Como
disse Sir Winston no discurso da Cortina de Ferro: "We surely, ladies
and gentlemen, I put it to you, surely, we must not let it happen
again", o que quer apenas dizer: outra vez não!

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